quarta-feira, 3 de julho de 2013

MESA REDONDA

MESA REDONDA

por Lívia Santana Este será um bate bola sobre sexo, como as mesas redondas de futebol. Mais especificamente "Comportamento". Práticas positivas, negativas, ridículas, expectativas, frustrações, sucessos, fracassos, machismos... O objetivo é fazer um artigo em que as pessoas possam ler e pensar: "Nossa, mas eu sempre pensei que fazendo isso eu arrasava!" ou então: "Eu também acho!". Fora com mal entendidos e tabus. Um papo franco, de verdade, com gente de verdade. Lívia Santana, 22 anos Luiz Carlos Carvalho, 52 anos, Paulo de Resende, 26 anos, Rafaela Cardoso, 23 anos, Sandra Baldessin, 44 anos, Zander Catta Preta, 33 anos, Roberta Febran, 24 anos, e o namorado Matteo, 28 anos. Lívia: Bem pessoal, sejam bem vindos, vamos começar em termos gerais: Sexo é importante? LC Carvalho: SEXO É BOM! Concordo com a Marina Lima. Lívia: Um aparte, Luca: sexo pode ser bom ou ruim, quero saber se é importante. Paulo: Eu acho importante demais. Tão importante que uso com moderação... Roberta: Sexo faz parte de tudo, se você prestar atenção nos seus pensamentos vai ver que qualquer coisa que lhe vier à cabeça pode ser relacionada ao sexo. Rafaela: Ultimamente eu tenho me sentido uma personagem de Sex & the City, porque sempre que me reúno com minhas amigas o assunto em pauta é SEXO. Pode-se falar em tudo, mas o que sempre vem à tona: SEXO. E sim, é muito importante. Faz falta para o bom humor, a suavidade e o brilho da pele, entre outras coisas. Sandra Regina: É mais do que importante: é fundamental LC Carvalho: Fundamental. Ok, Paulo. Lívia: Ótimo... Concordo, e dou ênfase à observação do Paulo. Sandra Regina: Hum, também concordo com a observação do Paulo. Zander: Fundamental, não sei, afinal de contas se sobrevive sem sexo. É importante, de certo: fato. A sociedade é montada em função da oferta de sexo. Mas acho que existe uma sobrevalorização do sexo, da mesma forma que existia na corte à amada ou ao trato ao sexo frágil. Lívia: O que se procura numa relação sexual? LC Carvalho: A gente não está indo muito rápido pra relação sexual? Cadê as preliminares? Roberta: É, cadê as preliminares? Lívia: Calma, estou perguntando em termos gerais, não sobre ações... Ainda estamos nas preliminares, quero saber de sentimentos, de sensações... LC Carvalho: Ora, primeiro encontro e já assim... Vou acender o meu charuto... Roberta: LC acaba de perder qualquer chance que poderia ter um dia de fazer sexo comigo... (risada) Paulo: Bom, voltando à pergunta... Posso falar de uma visão muito pessoal. Veja bem, pra mim o sexo é CONSEQÜÊNCIA de uma paixão, ou de um caso de amor... É uma forma de entrega posterior à certeza de que valerá a pena. Roberta: Discordo Paulo. Sexo é sexo, amor é amor. Lívia: Então sexo mecânico para você está excluído, certo, Paulo? Sandra Regina: Eu não penso como o Paulo. Nem com a Roberta. Paulo: Sim, no sentido de "fazer por fazer". Zander: Existe sexo sexo, e existe relação sem sexo. Existe até amor sem sexo (não quero minha avó pensando em mim com fins sexuais, pelo amor de Deus!). Não gosto de regras no e para o sexo. Não mesmo. Sandra Regina: A pergunta é: o que eu procuro numa relação sexual? Lívia: Sim. O que você busca quando faz sexo? Rafaela: O melhor sexo é aquele em que há uma troca ideal de energias. Pode parecer papo de bicho-grilo, mas não tem nada melhor do que a harmonia na cama. Melhora o relacionamento, traz intimidade instantaneamente. Quando o sexo é ruim, ou apenas não tem aquela química perfeita, ou o encaixe ideal, o relacionamento cai na mesmice muito mais facilmente. LC Carvalho: Bem, eu sou como um pássaro em muda... Até o ano passado eu tinha uma visão sobre coisas relacionadas ao sexo... Mas, separado recentemente e de cara limpa (sem bebida) ando meio zen... Acho que estou dizendo que o "carnal" da relação muda um pouco. Sandra Regina: Eu procuro satisfazer a minha necessidade de prazer, e tudo que se relaciona a ela. Roberta: Puxa isso é relativo... Não tenho sempre os mesmos objetivos em todas as relações... Têm dias em que eu quero apenas jogar meu namorado na cama e o fazer gozar, e está ótimo. Têm outros em que o objetivo é mais o meu prazer do que o dele e ainda outros em que gozar nem importa, só quero ficar com ele. Simples assim, depende do meu humor atual, de como foi o dia, etc. Lívia: Claro, eu concordo... O que se busca numa relação sexual não pode ser padronizado, certo? Depende da situação, do parceiro, do dia do mês (risada). Paulo: Veja bem, isso que a Roberta falou quer dizer que sexo não é o ponto principal (afinal de contas, ele depende do dia, do humor etc.) Eu acho isso o máximo porque, se for entendido pelos dois, corta a ansiedade... A coisa rola de uma forma muito melhor. LC Carvalho: Sem ansiedade, mas às vezes rola atração fatal... Já rolou com vocês? Tesão incontrolável? Lívia: Sexo pelo sexo, a meu ver, perde a graça muito rapidamente se não puder proporcionar mais, ir além... Assim como filme pornô sem história... Zander: A analogia de sexo pornô é perfeita. Rafaela: Concordo. O melhor do relacionamento é poder ter a variação com segurança, com a certeza de que amanhã você pode vir igual ou diferente q será melhor ainda q hoje, ou seja, se você chegar toda fogosa amanhã, querendo dar assim que ele abrir a porta, ou se quiser só ficar cheia de carinhos ele vai estar pronto para o que for, porque a vida a dois é muito mais que sexo. Além do mais, filme pornô pra mim é filme de comédia, justamente por ser tão mecânico. Roberta: Por sinal ele (o namorado) está aqui querendo participar. LC Carvalho: Por mim é bem vindo. Lívia: Claro, participe! Roberta: Digam olá pro Matteo, pessoas... LC Carvalho: Olá. Lívia: Oi, Matteo. (Viu Luca, pára de cantar a namorada do cara... risos). Paulo: Oi, Matteo. Sandra Regina: Gostaria de fazer um aparte. Posso Lívia? Lívia: Pode mandar Sandra. Sandra Regina: É o seguinte: o nosso cérebro trabalha com a idéia do prazer, já ouviram falar no sistema punição e recompensa? É bem assim que funciona a sexualidade. Lívia: Punição e recompensa? Neste caso? Elabora mais, Sandra? Sandra Regina: Sim, mas não como a palavra sugere. É um sistema, fazemos sexo por conta do prazer, só isso; então a pergunta é: O que te dá prazer? O aconchego, a afetividade? O sexo ligado à psique ou ao órgão? Lívia: Concordo, o cerne da questão é esse. Paulo: Eu diria que está ligado a ambos... Arriscaria, inclusive, dizer que mais à psiquê. Sandra Regina: Com certeza, Paulo, desde que passamos a olhar no rosto do parceiro, o sexo virou coisa da psique. Lívia: Sim, sexo na cabeça, Sandra... Até porque, excitação é algo predominantemente psicológico. Está certo, homens podem dizer que ficam excitados com a visão de uma mulher nua... Mas tenho pra mim que nenhuma imagem, som, cheiro, gosto ou toque pode despertar excitação sexual se eu não estiver na sintonia. Roberta: Bem, eu tenho 1001 maneiras de ver o sexo, até mesmo por causa da minha religião... Pagã, druída, strega. Digo religião para entenderem, mas é uma filosofia de vida na verdade. LC Carvalho: Bem, sou de uma geração dita de "sexo, drogas e rock 'n roll"... Lívia: O que quer dizer com isso, Luca? Sandra Regina: Eu sou da geração do Luca. Zander: Eu sou da geração sexo no saco plástico. Camisinha, Playboys, VHS, putas online e sexo na TV. LC Carvalho: Antes sexo era "proibido"... Portanto a relação de sexo para nós é bem "Hair", amor livre e descobertas do corpo, do outro... Havia mais "Paz e Amor" no lance... Rafaela: Já eu, sou quase isso, sou de uma geração de Educação Sentimental. E o sexo é uma das melhores formas de se educar e de ser educada. (risos) Lívia: Uma coisa sensorial, apenas? (risada) Boa, Rafaela! Sandra Regina: Discordo um pouco de você Luca, não foi assim para as mulheres... LC Carvalho: Ao dizer isso, a minha intenção foi te ouvir, Sandra... Sandra Regina: Elas continuaram sendo discriminadas porque gostavam de sexo e praticavam o tal "amor livre" seja lá o que for isso... LC Carvalho: Creio que nós homens mudamos muito, concorda Paulo? Paulo: Luca, eu vejo de uma forma dicotômica... Parece que, com a idéia de liberação, os opostos radicais se sobressaem muito... Predomina a idéia de que está tudo liberado, e isso leva a comportamentos que eu abomino, como puxar uma mulher pelo cabelo na boate e tascar um beijo, depois arrastar para o carro... Do outro lado, estão os "manés", que não vêem as coisas dessa forma. Sandra Regina: O Paulo está certo, esse comportamento é troglodita, como toda mudança, tem o lado bom e o ruim. Matteo: Olha só, eu acho que o sexo ao contrário do que dizem por aí não está ligado aos instintos, mas sim à cabeça mesmo. Claro que qualquer adolescente vai sentir as transformações no corpo, etc., mas um moleque que é criado em ambiente evangélico, por exemplo, jamais vai explorar tudo que o sexo pode oferecer. LC Carvalho: Sim, patriarcado e machismo, mesmo com aprovação das "mulheres"... Sandra Regina: A maioria das minhas amigas casou grávida e se divorciaram depois de passar anos agüentando um cara dizer pra elas que casou só porque ela estava de barriga, e coisas assim... Inventaram o anticoncepcional, mas o acesso para as solteiras não era tão fácil como hoje. LC Carvalho: Eu vivi 25 anos com a mãe de minha filha... Não casei porque ela estivesse grávida, mas porque nos encontramos em muitas coisas. Acho que a vida é isso, a arte do encontro. Sandra Regina: É a sua história Luca, mas a maioria das histórias não é bem assim. A maioria dos homens achava que a responsabilidade por evitar a gravidez era da mulher. Zander: Eu não afirmaria isso assim de prima. Eu acho que a tendência era e ainda é essa aí. Mas eu conheço dezenas de casos tanto de um lado como de outro dessa história. Roberta: Até hoje acham. LC Carvalho: Sandra mudou muito entre você e a nova geração? Sandra Regina: Totalmente, eu converso com meus alunos e fico abismada, literalmente. LC Carvalho: Como assim? Sandra eu convivo com jovens de vinte e poucos anos, ouço muito a nova geração, e por incrível, eles me ouvem... Ontem estive com um grupo pi (dai saem os projetos pi.neo pi.rata) formado basicamente por jovens... Sandra Regina: É o seguinte Luca: a nossa geração fazia sexo por "amor", o amor justificava tudo (supostamente); lembra-se da prova de amor? A gente dava porque estava com tesão, mas ninguém admitia isso: não, tinha que ser algo superior, o AMOR... E isso era péssimo, porque confundia as pessoas. Rafaela: Mas será que não existem várias formas de amar? Uma coisa é você comer ou dar uma vez só e nunca mais encontrar na vida. Outra é você manter uma relação mesmo q só sexual com uma pessoa. Para mim aí já há amor. Um tipo q não o estereotipado para casar, ter filhos e viver para sempre. Digo, estereotipado como único universalmente. Acho até, que naquela única transa pode ter havido amor, é aquela velha história rubeniana que é preciso alma até para chupar um chicabon! Lívia: Concordo, Rafaela! LC Carvalho: Ah, tesão é bom pra tudo na vida... Fazer arte sem tesão é mecânica... Paulo: (risada) Eu imagino a confusão! Lívia: Ótimo, mas sabe do que mais, Sandra? Eu vejo muito isso ainda... Porque as mulheres e os homens que pensavam assim e estacionaram, criaram os filhos, hoje jovens e adolescentes, pensando assim. Sandra Regina: É Lívia, tem sim, as mais certinhas hoje ainda usam essa justificativa, embora hoje haja mais liberdade pra se fazer sexo sem jurar amor eterno. Naquela época nós mentíamos para nós mesmas e obrigávamos os homens a mentir também. (Continua na próxima edição...)